Isso me traz alegria?
Eu sempre fui uma pessoa organizada, ou ao menos pensei que fosse. Tenho todos os meus cadernos guardados. Roupas de quando eu era adolescente, dobradas com capricho. Livros da época do primeiro grau ainda, encadernados e bem cuidados, para “um dia” usar e olhar de novo.
Até que eu ouvi falar da Marie Kondo e sua mágica da arrumação. Antes de ler seus dois livros, achei que fosse mais um livro de como dobrar roupas perfeitamente ou organizar livros na estante. Até é. Mas a premissa básica de se perguntar se “isso me traz alegria?” foi o grande ponto de virada que mudou a minha vida. Pode parecer exagero dizer que mudou a minha vida, mas explico:
Eu achava que organizar a casa (e, consequentemente, a vida) era simplesmente manter as coisas no lugar, talvez em ordem alfabética, livros, CDs, souvenirs e roupas que me “dissessem” quem eu sou. Com o livro da Marie Kondo e sua premissa de “isso me traz alegria”, fui me dando conta de que as coisas não eram bem assim. O que eu estava fazendo, na verdade, era me cercar de coisas e mais coisas que suprissem alguma carência minha. Me rodeava de coisas e de lembranças que “um dia” me disseram quem eu fui ou quem eu seria... A ideia dela, ao contrário, não era de acumular, e sim de manter apenas o que realmente traz alegria.
O processo de limpeza da casa começou e, com ele, uma jornada para dentro de mim mesma. Comecei pelas roupas, como ela ensina. Eu nem tinha tantas roupas velhas, mas roupas que não tinham nada a ver com a minha personalidade: calças e saias sociais, camisas formais demais, camisas que me fariam parecer bem mais velha etc. Ou o contrário: roupas “jovens” ou nada a ver comigo e que comprei por alguma intenção de querer ser o que eu não era (nem nunca serei). Comecei a analisar as compras incoerentes que fiz e as separei para doação. O mesmo com os sapatos: alguns super desconfortáveis e que não combinavam comigo, comprados de novo com aquela intenção inicial de ser quem eu não era.
Com os livros, a mesma sensação. Tinha livros de business etc do tempo da faculdade que também não faziam mais sentido: ou porque já estavam obsoletos ou porque nunca li e que - agora me dou conta - eu achava (ainda acho) o assunto extremamente chato.
Apesar de eu já ter doado cerca de 350 litros de roupas, muitos livros e tralhas em geral, o processo ainda está começando para mim. É que depois de ler o livro a gente fica meio “viciado” em apenas viver com o que nos dá alegria. E falo “viver” pois não é mais uma questão de “ter” uma roupa ou um livro, e sim de viver aquilo que se prega...
O “vício” se estende nas relações: conviver com tal e tal pessoa me faz feliz? Como posso me afastar de quem me faz mal?
E a pergunta vale para a vida profissional: esse trabalho faz sentido para mim? Ou: o que estou fazendo aqui? Ou: por que estou desperdiçando a minha vida aqui se o meu sonho sempre foi trabalhar com x?
E eu comecei a ficar “obcecada” com isso, pois agora em tudo o que faço fico a me questionar se me traz alegria. A primeira sensação é a de querer jogar tudo fora, se livrar de tudo e começar do zero, sem interferências culturais, familiares ou profissionais.
Com a limpeza, a gente começa a se dar conta que o acúmulo na verdade não é apenas físico, mas emocional. Fiquei com vergonha de ter guardado tanta coisa por tanto tempo... Me dei conta de que esse “erro” de guardar tantos objetos é mais comum do que se imagina. As pessoas se resguardam por trás de roupas, sapatos, fotos e lembranças – como em uma fortaleza, e não se dão conta que na verdade precisam de tão pouco materialmente.
Meu post não é religioso nem estou aqui pregando que se viva como um monge com duas peças de roupa, e sim uma constatação minha de que a gente complica coisas que não deveriam ser complicadas... Guarda coisas que já deveriam ter sido superadas, tanto físicas quanto emocionais... Talvez eu esteja sim a favor do “minimalismo” ou da simplificação.
Isso tudo o que escrevi acima funciona para mim, em termos práticos. Com isso, concluí que, quanto mais coisas temos, mais “travados” ficamos, como se tivéssemos que carregar tudo nas nossas costas (metaforicamente), quando na verdade deveríamos estar livres para “andar”, sem muita bagagem.
A ideia de ficarmos apenas com o que nos traz alegria serve para abrir espaço (físico e emocional) para que novas coisas (sim!), momentos e pessoas surjam em nossas vidas e sejamos cada vez mais felizes.
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